CPPC levou Trump<br>a debate
«A administração Trump, a situação nos EUA e suas repercussões na situação internacional» foi o tema de um debate promovido pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) ao final da tarde de segunda-feira, 20, na Casa do Alentejo, em Lisboa. Mais de uma centena de pessoas compareceram à iniciativa que teve como oradores convidados Ilda Figueiredo, presidente da Direcção Nacional do CPPC, José Goulão, jornalista, e Pedro Pezarat Correia, major-general (na reserva).
Com este debate, como afirmou Ilda Figueiredo na sua intervenção inicial, o CPPC procura contribuir para o aprofundamento da discussão e análise da situação internacional decorrente da eleição de Donald Trump para a presidência norte-americana, não esquecendo o contexto em que tal decorre quer nos EUA quer na Europa, e considerando ainda a crise económica e social em resultado da globalização neoliberal e a proliferação de conflitos, sobretudo no Médio Oriente e em África, que originam uma situação marcada por grande incerteza e instabilidade.
Relativamente aos EUA acentuou-se a agudização da crise naquele país, com o agravamento das desigualdades económicas e sociais, o crescimento da pobreza. Essa situação e a utilização de vastos recursos nas guerras em que os EUA se envolveram, directamente ou através da NATO, provocou descontentamentos que se reflectem na eleição de Donal Trump, considerou José Goulão, para quem esta conjuntura não é muito diferente do que se está a viver na Europa. Recordou a esse propósito os muros erguidos contra os refugiados e as políticas anti-sociais e amputações da democracia, de que não faltam exemplos na própria União Europeia. Os casos da Hungria, Ucrânia, e outros países da região, não esquecendo a França, foram abordados por outros participantes no debate.
No plano do militarismo, Ilda Figueiredo recordou o envio para a Europa (designadamente para a Polónia e outros países que fazem fronteira com a Federação Russa), nas últimas semanas da administração Obama, de milhares de tropas e material bélico pesado de última geração, o que resultou das decisões da Cimeira da NATO realizada em Varsóvia no Verão de 2016.
Pezarat Correia, por seu lado, salientou a posição imperial que os EUA têm assumido, com um Conselho de Segurança da ONU onde, considera, aproveitando o facto de cinco estados terem direito de veto, a Casa Branca continuar a dominar. O caso da Palestina foi recordado, seja pelos anúncios recentes da administração Trump, seja pelas posições anteriores, lamentando-se que Obama só no final do mandato tenha aceite a condenação da política dos colonatos israelitas, ao mesmo tempo que se assumiu como um grande financiador da militarização de Israel.
Conquistar a paz
No debate que incluiu várias intervenções da plateia, foi recordado que nos últimos anos os EUA têm vindo a promover agressões militares baseadas em mentiras e manipulações para dar cobertura ao saque dos recursos e riquezas dos países invadidos pelas multinacionais, as norte-americanas e as dos seus aliados. Particularmente interessante foi o testemunho de um militar português que denunciou a crescente mercantilização da guerra dando como exemplo a experiência no Mali, constatando que eram as multinacionais que exploravam as riquezas daquele país quem pagava a missão da ONU.
Como também foi salientado na iniciativa, a incerteza que se vive não pode ser aproveitada para alimentar o medo e agravar a corrida aos armamentos na UE. Nem para o reforço da União Europeia como pilar europeu da NATO, como alguns defendem, ou para confundir paz com segurança.
No final, Ilda Figueiredo relembrou vários aspectos do artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa, incluindo a defesa do desarmamento geral e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o conceito de paz que o CPPC também defende, o qual não se restringe à segurança, insistiu. Realçou, igualmente, que para construir a paz é necessário liberdade, democracia, desenvolvimento e progresso social; o reconhecimento do direito soberano de cada povo escolher o seu caminho. E os povos lutam e exigem o respeito pelos seus direitos, merecendo por isso a solidariedade de todos os amantes da paz.